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O perfil atual do agronegócio de abacaxi em Itaberaba, Bahia

O agronegócio do abacaxi no Brasil cresceu fortemente ao longo dos últimos anos, representando um valor da produção estimado em meio bilhão de dólares (cerca de 1,5 bilhão de reais) por ano, considerando-se o volume de cerca de 1,7 milhão de toneladas, produzidas em 62.000 hectares de área cultivada, e um valor histórico em torno de US$ 300 por tonelada de abacaxi frescos no mercado internacional. A atividade gera mais de 100.000 empregos, a maioria deles em nível da pequena produção agrícola, a mais carente de apoio e a mais priorizada nos planos do atual Governo brasileiro.

A pujança do agronegócio no país tem tido a contribuição relevante do Estado da Bahia, onde a produção tem crescido continuamente, chegando a cerca de 100 milhões de frutos colhidos em 2002, o quarto maior volume entre os Estados brasileiros. Parte significativa deste volume tem sido produzido no município de Itaberaba, localizado na região semi-árida, onde a limitação acentuada de disponibilidade de água, entre outros entraves, tem deixado poucas alternativas de exploração econômica e de geração de renda no meio rural. A cultura de abacaxi adaptou-se muito bem às condições ambientais locais.

A Embrapa Mandioca e Fruticultura e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) têm desenvolvido ações intensas de pesquisa e transferência de tecnologias para os abacaxicultores. Frutos de boa qualidade tem sido produzidos, garantido lucros significativos aos envolvidos neste negócio e colocado em circulação um volume muito elevado de recursos financeiros que impulsiona a agricultura e o comércio regional.

No entanto, até recentemente não havia informações seguras e confiáveis sobre os diversos aspectos deste agronegócio, a começar pelo número de produtores, as áreas plantadas e colhidas, a sua distribuição dentro da região e algumas características importantes sobre o tipo de agricultura praticada e o apoio recebido por órgãos públicos.

Visando o levantamento destes dados, fundamentais para permitir ações bem planejadas em prol da organização dos produtores, e da cadeia produtiva em geral, e do apoio ao desenvolvimento sustentável do referido agronegócio, foi realizado o censo regional da cultura do abacaxi, em final do ano 2002, num trabalho de parceria entre a Empresa Brasileira de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), a Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA) e o Sebrae regional.

O censo consistiu na aplicação de um questionário a todo universo de produtores de abacaxi do município de Itaberaba. Os dados levantados foram organizados em tabelas e gráficos, analisados e interpretados, gerando uma série de informações que definem o atual perfil dos produtores e do agronegócio de abacaxi nesta região.

Existem 625 produtores distribuídos em 94 locais dentro da região, mas cerca de 42% dos produtores se concentram em apenas seis locais: Testa Branca, Bom Viver, Pombas, Barro Branco, Papagaio e Vila Nova. Outros quatro locais (Travessão, Bom Jardim, Lorena e Estrada de Testa Branca) também são importantes, contribuindo com cerca de 13% da produção regional de abacaxi.

A área total cultivada com abacaxi na região é de 1.330 ha, sendo 538 ha plantado em 2002, 536 ha em 2001 e 256 ha de soca, plantada em 2000 ou antes. A área colhida em 2002, estimada pela soma dos plantios no segundo ano e da soca, foi de 792 ha. Na safra de 2003, que deverá se estender de julho a dezembro, a área colhida deverá ser um pouco superior à de 2002, somando cerca de 805 ha, considerando os 538 ha plantados em 2002 e mais 50% da área plantada em 2001 (soca).

Para estimar a produção, mais importante do que a área plantada é o número de plantas cultivadas. Em 2002, o número total atingiu a 35,9 milhões de plantas, sendo 5,5 milhões de soca, 13,4 milhões de segundo ano e 17,0 milhões de primeiro ano, indicando um aumento de 26,0% em 2002 em relação ao ano anterior. Estimando-se que, de cada 100 plantas, 80 frutos sejam colhidos ao final do ciclo, foram colhidos 15,2 milhões de frutos em 2002.

Para 2003, baseado nos números de plantas colocadas em campo em 2002 e em 2001 (50%), a expectativa de produção é de 23,6 milhões de frutos, um crescimento de 56,0% em relação a 2002. No entanto, poderá haver uma redução desta estimativa em função do longo período de seca reinante a partir de outubro de 2002, que tem causado deficiências hídrica e nutricional nas plantas, afetando o seu crescimento e a formação de frutos.

Um outro dado interessante gerado no censo do abacaxi de Itaberaba é a tendência para a elevação da densidade de plantio nos últimos anos, de 21.572 plantas/ha nos anos 2000 e anteriores (soca) para 25.102 plantas/ha e 31.498 plantas/ha nos plantios de 2001 e 2003, respectivamente. Este adensamento maior dos plantios tem sido recomendado pela assistência técnica com base em resultados de trabalhos de pesquisa realizados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura e pela EBDA.

A grande maioria dos produtores (91,7%) tem interesse em ampliar a área plantada, em praticamente todos os locais. E por enquanto, há área de reserva suficiente, que atinge um total de 3.012 ha no município. No entanto, caso a expansão de área ocorrer, em grande parte, em área de reserva, esta se esgotará dentro de poucos anos, o que exige o desenvolvimento de tecnologias para a recuperação de áreas velhas para o cultivo de abacaxi e um manejo mais adequado das áreas novas, visando aumentar a sua vida útil e dar sustentabilidade para o agronegócio a longo prazo.

Quanto às características da produção e o perfil dos produtores, pode-se destacar: uma grande parcela de arrendatários (44%), a grande maioria (82%) praticando agricultura familiar. 56% dos produtores usam adubos no cultivo, sendo os adubos e outros insumos comprados na própria região (91%). Apenas 13% dos produtores (78) tem usado o crédito rural, sobretudo no Banco do Nordeste (67 produtores), evidenciando que, em geral, os produtores tem recorrido aos parcos recursos próprios para cultivar abacaxi. O custo de produção de um hectare de plantio novo desta lavoura atinge a cerca de cinco mil reais, diminuindo para em torno de quatro mil reais quando não é preciso a compra de material de plantio, usando-se mudas próprias de plantios anteriores.

Uma parcela bastante significativa dos produtores (70%) tem recebido assistência técnica da EBDA, mas apenas 4% deles tem tido alguma oportunidade de capacitação gerencial, o que é fundamental para a melhoria da gestão deste agronegócio nas propriedades e na fase de comercialização dos frutos.

Outro aspecto muito importante para o progresso deste agronegócio é a melhoria da organização dos produtores. Um passo relevante nesta direção foi a fundação da Cooperativa de Produtores de Abacaxi de Itaberaba (Coopaita) em 2001, que vem se dedicando com prioridade a oferecer serviços de comercialização dos frutos para os seus cooperados, auferindo preços médios significativamente superiores aos obtidos pelos produtores e, o que não é menos importante, conseguindo praticamente eliminar a inadimplência do comprador, caracterizado pelo pagamento com uso de cheques sem fundo e outros mecanismos tão danosos ao bolso do produtor desprotegido. Em 2002, 36 produtores faziam parte da cooperativa, mas outros 145 produtores manifestaram interesse em aderir.

Os frutos tem sido predominantemente
vendidos aos intermediários (87,7% dos produtores) e o principal destino dos frutos tem sido o mercado regional ou estadual (80,2%), seguido do mercado interestadual mais distante (6,8%) e do mercado local (6,2%). O preço médio dos frutos comercializados em nível do produtor em geral foi de R$ 0,32 por unidade e de R$ 0,39 por unidade em nível da cooperativa.

Os resultados do censo confirmam a importância sócio-econômica do agronegócio de abacaxi na região de Itaberaba, sendo predominantemente uma atividade típica de agricultura familiar que carece de apoio constante e integral dos diversos órgãos governamentais em prol do seu desenvolvimento sustentável, que deverão pautar as suas ações nos alicerces deste perfil do produtor regional.

Domingo Haroldo Reinhardt

Embrapa Mandioca e Fruticultura

[email protected]

Fone (75) 621 8061 Fax (75) 621 2149

Alberto de Almeida Alves

Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

Fone (75) 251 0854

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