Quatro anos após as chuvas fortes que atingiram a cidade de Lajedinho, na Chapada Diamantina, deixando 17 pessoas mortas e 600 desabrigadas, as obras de reconstrução da cidade e de prevenção de uma nova tragédia não foram concluídas.
A cidade foi arrasada, no dia 7 de dezembro de 2013, por um temporal que durou duas horas e provocou um volume de água esperado para três meses. O canal que corta a cidade não suportou a força da natureza, transbordou e alagou a parte baixa do município, destruindo casas e lojas.
Na parte mais baixa da cidade, ainda é possível encontrar imóveis em ruínas e espaços vazios onde existiam prédios públicos e uma escola.
“A sensação de vazio é muito grande, porque pessoas que a gente conhecia e famílias que foram destruídas, de alunos nossos, que a gente vê a tamanha tristeza”, diz a professora Joseane Pereira.
Segundo a prefeitura, o governo do Estado deve assinar ainda neste mês a ordem de serviço para iniciar a obra de reconstrução da escola.
Com a tragédia, a cidade perdeu 10 prédios públicos. O governo federal se comprometeu a mandar recursos para que o Estado fizesse as obras, mas só o prédio da prefeitura e do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) estão praticamente prontos.
Outros imóveis, onde seriam instaladas secretarias, Conselho Tutelar e farmácia, estão com obras paradas desde junho do ano passado.
Também ainda não saiu do papel o projeto do canal para escoar água da chuva, para ampliar o córrego que atualmente não suporta o volume de chuvas na cidade. O projeto do canal tem custo de R$ 15 milhões e 1km de extensão.
“Desde 2014, está aguardando liberação de recursos por parte do governo federal, para que o governo do Estado execute as obras em Lajedinho.
Se essa situação não for resolvida com maior agilidade, novos alagamentos tendem a acontecer”, diz o prefeito Marcos Mota.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) disse que depende da liberação da segunda parcela para continuar as obras.
“Foi pleiteado junto ao Ministério da Integração a reconstrução de 10 equipamentos públicos em Lajedinho. Foi assinado um termo de compromisso no valor de R$ 4,24 milhões. Foi liberada a primeira parcela, inicamos a obra e prestamos contas em julho de 2016.
A segunda parcela não foi repassada e mesmo assim continuamos a obra e fizemos mais de 50% da segunda parcela e tivemos de paralisar obras há cinco meses atrás porque os recursos não foram repassados”, explica Luiz Jenkins, superintendente de urbanização da Conder.
O Ministério da Integração Nacional disse que, em maio de 2014, liberou R$ 1,6 milhão para as obras na cidade. A pasta afirmou ainda que, em 2015, houve rompimento entre o Estado e uma construtora licitada e é necessário fazer um novo estudo técnico para continuar as obras.
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Foi entregue apenas um conjunto habitacional com 231 casas construídas com recursos do Ministério das Cidades.
Foram 185 famílias que passaram a morar no local em abril deste ano, mas ainda faltam entregar 46 imóveis. Os critérios da ocupação seguem os do governo federal e a prioridade é para quem era dono de casa que foi destruída com a enchente.
O lavrador Gerson Ribeiro perdeu nove parentes na tragédia. “Todos me fazem falta. Meu filho eu amava demais, meus netos também. Minha esposa, a gente viveu 40 anos. Posso viver 100 anos, só se eu caducar para não lembrar mais, mas enquanto minha mente estiver
funcionando, não esqueço. Mas graças a Deus a gente vai levando a vida”, lamenta
Naquele dia, a servente Arlinda Pereira perdeu filha Karolina, de 11 anos, além da mãe e do irmão.
O nome da menina está tatuado no braço da mãe e a dor da saudade ainda é muito grande. “Quando eu entrei na escola, no primeiro dia letivo de 2017, que eu vi as colegas entrando, eu não aguentei. Eu falei: meu Deus do céu”, diz Arlina, emocionada ao lembrar da filha.