Estreantes na Ufba contam como é a vida de calouro

Edilson Lima | Ag. A TARDE

O ano letivo na Universidade Federal da Bahia (Ufba), principal instituição pública de ensino da capital baiana, começou há uma semana. Esse ano, são mais de 3.600 novatos matriculados, espalhados nos 95 cursos que a instituição oferece. Se você é um calouro, já deu tempo de limpar toda a sujeira provocada pela mistura de farinha de trigo com ovos, lama e tinta, materiais frequentemente usados nos polêmicos trotes. Mas, o que vem agora e o que deve se esperar da vida acadêmica?

 
Passar quatro anos em uma universidade, período da maioria dos cursos de graduação, é uma valiosa forma de adquirir e ampliar conhecimentos. Este é o momento para se preparar para o mercado de trabalho, além de servir para aprender a conviver e se relacionar com pessoas de diferentes culturas e opiniões. O desafio, de acordo com a maioria dos jovens entrevistados pela reportagem de A TARDE, é saber equilibrar da melhor maneira possível a escolha do curso, que pode ser para o resto da vida, com a liberdade do início da fase adulta e as responsabilidades que antes não existiam e acabam surgindo aos poucos, como aprender a conciliar os estudos com um emprego, por exemplo.

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    Para a estudante Jessika Oliveira, 21, um universo de possibilidades se abriu desde o fim do ano passado, quando ela recebeu o resultado do vestibular em que foi aprovada, após ser eliminada no exame de 2011. “Espero que seja promissor. É muita coisa nova surgindo ao mesmo tempo, mas quero que meu futuro seja como eu realmente espero”, se entusiasma Jessika, que veio de Baixa Grande, na Bahia.
    A estudante começou a cursar letras na Ufba e mora em uma república no bairro do Tororó, no Centro de Salvador, com outros 27 estudantes. “A convivência no começo foi difícil. Tinha muito atrito, mas é uma experiência única de vida. Eu preciso mesmo aprender a me virar”, diz. Se “virar”, segundo ela, pode ser lavar roupa, cozinhar e se organizar, além de aprender a administrar o próprio dinheiro da mesada que recebe dos pais e respeitar a privacidade dos colegas da república.

    Mudança – Sair de casa e morar sozinho ou com colegas não passa pela cabeça do calouro Murilo Oliveira, 18. “Me acho muito dependente. Vou continuar na casa dos meus pais até o fim da faculdade”, diz. Já a colega dele, Ludmila Rodrigues, 22, tem tudo planejado. “Quero sair de casa no começo do ano que vem, passei na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], mas é bem complicado largar tudo agora e ir para uma cidade onde eu não conheço nada e nem ninguém”, revela a estudante, que salienta não ter escolhido o curso de letras pensando no mercado de trabalho. “Diferente da galera, eu não entrei para Letras para ser professora. Eu gosto de escrever, me interesso por literatura, gosto da nossa língua”, explica Ludmila.

    As aulas de arquitetura e urbanismo, curso para o qual o atendente de telemarketing Lucas Medeiros, 23, foi aprovado, também já começaram na Ufba. E, apesar do pouco tempo em sala de aula, o rapaz já pensa em trancar o curso. “Não consegui o Sisu [Sistema de Seleção Unificada] para engenharia na USP [Universidade de São Paulo]”, conta Lucas, que pretende conseguir transferência interna para o curso de engenharia elétrica ou, em último caso, ir para uma faculdade particular. “Não vou continuar no que não é bem a minha praia”, enfatiza.
    Mudar ou trancar o curso é algo que o calouro a qualquer momento pode fazer caso não se adapte ou o curso não seja o que ele esperava. “A vida é muito difícil para um jovem de mais ou menos18 anos escolher uma profissão. Essa fase é uma bagunça na cabeça deles. É natural a mudança, não pode haver desespero nem dos pais, muito menos do estudante. As pessoas que têm dúvida podem optar pelo bacharelado interdisciplinar, que dura três anos. Depois os jovens podem escolher outro curso, porque vão estar mais maduros. Quem se arrepende do curso precisa mudar imediatamente”, diz o professor do Instituto de física Ricardo Miranda, pró-reitor de ensino de graduação da Ufba.

    Como na universidade o mundo é completamente diferente do Ensino Médio, pode ser que ocorra um estranhamento inicial. “Há casos de pessoas que se adaptam ao curso que não queriam e acabam sendo bem-sucedidas”, acrescenta Miranda.

    Militância política – É nessa época da faculdade que, em geral, se dá o primeiro contato com alguns modelos de militância política. Participar de centros acadêmicos, grupos de estudo, monitoria, projetos institucionais e bases de pesquisa são formas de conhecer um pouco mais da profissão que escolheu e, consequentemente, também conhecer o mercado de trabalho. Entretanto,  os interessados precisam ser bem organizados e responsáveis. É o que pensa a estudante de jornalismo Bruna Castelo Branco, 19. Calculadamente, ela sai às 4h50 do município de Camaçari para chegar à Faculdade de Comunicação (Facom), em Ondina, às 7h30. Não gosta de se atrasar. Para ela, são nesses pequenos detalhes que se vê maturidade. “Me sinto mais madura entre o intervalo do ensino médio e o cursinho pré-vestibular. Quero fazer parte da Petcom, a revista anual  da Facom, e do Labfoto, grupo que produz fotografia dos projetos da faculdade. Mas ainda está um pouco cedo para isso”, diz Bruna.

    Mas, se o interesse maior for pelo mercado de trabalho, fazer estágio é a melhor alternativa. Nem sempre o estudante encontra um trabalho remunerado e, quando encontra, o valor da bolsa-auxílio pode ser bem curta. Entretanto, ajuda a conhecer mais a profissão e até a adquirir experiência em uma grande empresa. “Na verdade, eu quero muito um estágio. Mas sei que agora não é bem a hora, porque a faculdade ocupa muito tempo”, explica a caloura de jornalismo Mariana Gama, 19. O colega dela, Fernando Portela, 20, também calouro do curso de comunicação, pensa em participar de projetos paralelos e se dedicar às mídias digitais. “Eu vou tentar aproveitar tudo o que posso aqui dentro [na faculdade] e no mercado de trabalho. Mas quero ampliar meus conhecimentos principalmente em TV e internet”, diz Fernando.

    Além de todos os desafios acarretados na vida universitária, o calouro precisa, acima de tudo, saber organizar o tempo. Nos corredores da faculdade, na república ou no estágio, novos amigos e amores serão feitos e, aos poucos, o contato com colegas do colegial ou do pré-vestibular pode se perder justamente por falta de tempo. Nesse caso, entre um intervalo e outro de leitura dos enormes livros e apostilas, a internet pode ser um bom meio de fortalecer os laços. E manter todo mundo por dentro das novidades da vida de calouro, que são muitas e só estão começando.

    A tarde

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